Editoria: Vininha F. Carvalho 05/04/2013
Problema frequente para a conservação de espécies marinhas, a interação entre fauna aquática e pesca foi apontada, por muitos anos, como uma das causas dos maus resultados econômicos de atividades pesqueiras no litoral norte do Rio Grande do Sul.
A interação mostrou-se menos prejudicial à pesca quando um projeto desenvolvido com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza começou a investigar, nessa área, as interações entre a pesca costeira de emalhe e uma espécie local, os leões-marinhos.
O projeto foi realizado em dois portos gaúchos: Torres e Imbé. Nessas localidades, a atividade pesqueira divide espaço com o descanso dos leões-marinhos, que se concentram na área principalmente durante o inverno e a primavera para repousar.
A presença dos animais nas proximidades dos barcos levou os pescadores a acreditarem que os mamíferos estivessem se alimentando dos peixes capturados, diminuindo a produtividade da pesca e depredando as redes de emalhe.
Contrariando a crença local, o biólogo Rodrigo Machado, que participou da equipe executora do projeto, revela que a interação entre a espécie e a pesca não é tão danosa quanto se imaginava.
“Coletamos as carcaças de leões-marinhos e analisamos os estômagos pra ver o que a população está comendo. Muitas espécies alvo da pesca também são consumidas por esses animais. Porém, a principal espécie da dieta do leão-marinho é um peixe sem valor econômico e que é descartado quando é capturado pelas redes”, esclarece.
O estudo também aponta que as interações com os leões-marinhos não são tão frequentes e estima que seja bastante baixo o prejuízo econômico gerado pela presença da espécie no local, o que confirma a possibilidade de uma convivência sustentável com os pescadores.
As principais dificuldades enfrentadas pela pesca na região estariam mais relacionadas, segundo o projeto, com gastos operacionais elevados e condições climáticas adversas do que com a presença dos leões-marinhos.
As informações coletadas durante o estudo estão sendo levadas a escolas das cidades do litoral norte gaúcho para o apoio em atividades de educação ambiental, com foco na conservação do leão-marinho.
Os dados levantados pelo projeto também vão integrar o plano de manejo da Ilha dos Lobos, em Torres (RS), área próxima ao porto de pesca com alta concentração desses animais.