Editoria: Vininha F. Carvalho 10/05/2013
O processo de urbanização não necessariamente ocorre em sintonia com um planejamento arbóreo “As árvores atuam como um dos elementos de conexão mais significativos das pessoas com a natureza”, afirma a bióloga Sabrina Mieko Viana, autora da tese “Percepção e quantificação das árvores na área urbana do município de São Carlos, SP”, realizada no programa de Pós-graduação em Recursos Florestais, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ).
“A frequente exclusão das árvores do cenário urbano ocorre devido à disputa com outros equipamentos e pode ser interpretada como um dos sintomas do afastamento e alienação de seus moradores do ambiente natural”.
Diante deste cenário, a pesquisadora procurou compreender como as pessoas se relacionam com o ambiente e as árvores à sua volta.
“Conhecer as causas e formas de se trabalhar para diferentes setores da população é tão relevante quanto o conhecimento sobre a estrutura e distribuição da arborização para o aprimoramento da sua gestão”, afirma Sabrina.
Com orientação do professor Demosténes Ferreira da Silva Filho, do Departamento de Ciências Florestais (LCF) da ESALQ, o estudo buscou contribuir na ampliação do conhecimento sobre a quantificação, análise e aplicação de índices para avaliação da cobertura arbórea tomando como modelo o município de São Carlos (SP) e a relação desta com a percepção de seus moradores sobre o tema.
Segundo a autora do trabalho, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), nas etapas de quantificação, análise da distribuição da cobertura arbórea (CA) e aplicação do Índice de Floresta Urbana (IFU), foram utilizadas imagens do satélite Worldview 2, enquanto a percepção da população foi levantada em áreas com diferentes porcentagens de CA, com aplicação de 372 questionários estruturados e observação direta nos meses de abril e maio de 2012.
Os resultados indicaram que, embora a proporção da CA seja significativa para a totalidade da área urbana, ela é mal distribuída entre as regiões da cidade.
“Os maiores valores tanto de CA como do IFU concentraram-se nas regiões norte e noroeste da cidade, enquanto os menores localizaram -se na região central e ao sul, onde estão localizados bairros mais abastados”, comenta Sabrina, lembrando ainda que a análise da cobertura dentro de cada região indicou também o predomínio de árvores isoladas ou em pequenos grupos, com baixa conectividade entre estes.
A menor porcentagem de cobertura arbórea (4,88%) foi encontrado ao sul da cidade, no setor que engloba o Loteamento de Interesse Social Cidade Aracy, Presidente Collor, Antenor Garcia e Residencial Deputado José Zavaglia, que são bairros populares e de baixa renda.
Dos 44 setores analisados, somente 10 possuem IFU acima de 1,0. Destes, 6 localizavam-se em bairros predominantemente residenciais, 4 com condomínios fechados e 2 em bairros abertos.
No que se refere ao reconhecimento da população, as entrevistas revelaram que as pessoas identificam os benefícios proporcionados pelas árvores.
“Contudo, aspectos como a sujeira, atribuída a queda das folhas, problemas com as calçadas e a segurança, relacionada tanto a violência, como ao risco de queda, foram atribuídos pelos entrevistados como os maiores aspectos negativos em relação às árvores na cidade”.
Para minimizar essa percepção, a bióloga reconhece a importância de sensibilizar a população e trabalhar questões sobre o valor que se tem dado as árvores quando comparadas a outras infraestruturas da cidade.
“Além do resgate da percepção que a árvore é um elemento tão ou mais importante como outro na cidade, e acima de tudo, como mais um dos seres vivos que compõe o sistema da cidade, também é necessário que o poder público também seja cobrado e sensibilizado para o fato de que a destinação de verbas para a arborização é um investimento, com benefícios inclusive econômicos”, conclui.